Thursday, June 29, 2006

 

80's RULE!

Bem sei que o som característico da década de 80 é muito plástico-electrónico. Bem sei que muitos dos cantores e bandas foram "one-hit wonders" que desapareceram do panorama musical. Até sei que os conteúdos das letras eram em grande parte muito ocos. Mas o fascínio não desapareceu. Antes pelo contrário. Da minha parte, há-de sempre merecer uma atenção muito especial - aliás, tenho uma certa fixação (para não dizer paranoia...) por encontrar todos e quaisquer cds (compilações ou não) referentes a esses anos. Como explicar isto? Se calhar é tão fácil quanto a música que se fazia. E tem tudo a ver com a noção de escassez (que consuz invariavelmente à valorização). As horas intermináveis que passávamos a ouvir programas de discos pedidos na rádio, para, assim que o locutor se calava, carregarmos no botão com o símbolo vermelho redondinho (REC) e rezarmos para que não houvesse interrupções durante as canções ou para que a nossa mãe não entrasse na sala aos berros, já que o rádio gravava tudo. A existência de programas míticos na televisão (e lembrem-se que estou a falar do tempo da televisão com 2 canais e em que ninguém sequer sabia o que era isso de televisão por cabo), como o "ViváMúsica" (RTP1), apresentado pelo Pego, ou o "European Countdown" (RTP2), em que um rapazinho britânico de nome Adam nos trazia actuações ao vivo e videoclips das bandas do momento; estes eram minutos que religiosamente nos prendiam ao écrã, devorando os sons que nos apresentavam (tal como as tardes de Sábado, que tinham sempre na sessão de cinema televisivo "Aventura é Aventura" um momento de realce; isto e a Galáctica, etc etc). Hoje em dia, tais comportamentos parecem anedóticos, já que vivemos numa sociedade em que tudo se descarrega da net e em que há centos de canais temáticos nos quais podemos consumir filmes ou música durante horas a fio se quisermos. No entanto e não obstante o facto de haver tanta coisa à disposição, na altura dava muito mais gozo. Ainda me lembro de gravar as músicas dos Europe por cima duma cassete do Marco Paulo (!); ainda me lembro da felicidade de o meu pai me ter comprado uma cassete do Nik Kershaw na feira (!); ainda me lembro de ver o teledisco do "Touch Me" da Samantha Fox ou o "Tarzan Boy" do Baltimora (!). E hoje gosto de ouvir, Às vezes repetidamente, estes sosns e outros que tais. Não por saudosismos, mas porque me ficaram na memória. E quem não tem memória não tem história. Por isso, e apesar de poderem ser considerados foleiros, vazios ou desactualizados, são a minha memória.


Tuesday, June 27, 2006

 
EM "SKA-P" LIVRE...

SKA-P é uma banda espanhola, que mistura uma sonoridade mais ou menos punk, com os ritmos do reggae e do ska, letras críticas e liberais. Tudo junto, dá uma sonoridade "muito à frente", cheia de energia e que cai bem no ouvido. Só como amostra, deixo aqui a letra da acelerada canção "Cannabis", que versa a legalização da mesma. Quanto ao nome da banda, não sou grande especialista em Castelhano, mas parece-me ter o duplo sentido do tipo de música muito ritmado (ska) e do equivalente a "escape" - e de facto, sendo um trocadilho, acaba por corresponder em pleno ao que a banda faz. Chegaram ao conhecimento público em 1994, ao criarem uma canção de apoio ao clube do seu bairro (Vallecas), o Rayo Vallecano, que começou a ser cantada por toda a claque. Daí para cá, foi sempre a andar. Pena que agora tenham terminado a sua actividade. Mas deixam muitas e boas músicas.

"CANNABIS"

Y saco un papelillo, me preparo un cigarrilloy una china pal canuto de hachís ¡HACHÍS!

Saca ya la china, "tron", ¡Venga ya esa china, "tron"quémame la china "tron", ¡NO HAY CHINAS!

Legalegalización ¡CANNABIS!,de calidad y barato

Legalegalización ¡CANNABIS!,basta de prohibición.

Ni en Chueca, en La Latina, no hay en Tirso de Molinani en Vallekas ni siquiera en Chamberí ¡HACHÍS!

Yo quiero una china "tron", dame esa china "tron"saca ya la china "tron" ¡NO HAY CHINA!

Sin cortarme un pelo, yo quiero mi caramelovoy corriendo buscando a mi amigo Alí ¡ALÍ!

Pásame una china "tron", yo quiero una china "tron"una posturita "tron""No chinas, no chinas hoy"¡

NO CHINAS, NO CHINAS HOY!

Legalegalización...¡CANNABIS, CANNABIS, CANNABIS!

Legalegalización Yo te quiero Marihuana...¡LEGALIZA, LEGALIZA!, ¡LE-GA-LI-ZA-CIÓN!¡Basta ya de hipocresía!, ¡LE-GA-LI-ZA-CIÓN!¡LE-GA-LI-ZA-CIÓN!


Thursday, May 18, 2006

 
GRANDES CAMELOS!!!

Descobri há pouco tempo a perfeição na música. E num grupo já tão dinossáurico. Mas enfim, há um tempo para todas as descobertas e esta veio um bocadinho fora de prazo, mas ainda bem. "Breathless" é o nome deste álbum dos CAMEL e é mesmo assim (sem fôlego) que fico ao ouvi-los. As melodias são extraordinárias, sendo simples. As vozes são assombrosas, sendo tão pouco sonoras. E o ambiente geral, seja deste seja dos outros álbuns que entretanto freneticamente procurei, é sublime. "The Snow Goose", "Rain Dances" e "Nude" são os que tenho. E cada um melhor que o anterior. E tive que andar uns quilómetros para os adquirir! Mas valeu a pena (melhor só se tivesse ido mesmo de camelo...)
Há quem se canse de longas melodias e critique o carácter elaborado das canções. Para mim, foi a descoberta de música, música mesmo. Dá para relaxarmos, mas também para pensar, ou ainda para "abanar a cabeça". Enfim, propicia emoções. E quando isso acontece, só podemos agradecer.
E já consegui ter um dvd com uma prestação ao vivo e, sem supresas, vi que são "the real thing". Todos grandes executantes, nada de grandes tecnologias. Mas umas mãozinhas!... Ui Ui. Não há uma grande multidão de gente excitada aos saltos, não há adolescentes histéricas a mandar roupa interior para o palco. Mas há gente em estado quase extático perante aquele desenrolar de talento. São uns senhores! Quase que me faz ter vontade de gritar: "Seus grandes camelos!!!".

Friday, May 05, 2006

 

A PRIMEIRA BOYSBAND DE GARAGEM???...

Já havia boysbands. Já havia bandas de garagem. As primeiras, com uns jeitosaços bem alinhados, uns rostos de fachada, com vozinhas melodiosas (isto é quando cantam mesmo...) e a dançar "comme il faut", treinados por coreógrafos profissionais, maquilhados por gente famosa, vestidos pela alta costura. As segundas, habitualmente de carácter mais ou menos rebelde, de letras alternativas e postura de desafio, compondo os seus temas e fabricando o seu próprio som. E então, algures no Portugal em crise de 2005, eis que surge uma terceira via: o cruzamento das duas vertentes, com um resultado bastante aceitável. Os Azeitonas. A primeira boysband de garagem portuguesa! E a melhor. Aliás, é mesmo a única...AJ, Marlon, Panchito e Preto, com as Azeitonettes Nena e Carol no “shoop-shooa” dão cartas. Visualmente são uma espécie de revivalistas dos grupos "brilhantina" dos anos 50/60. A sonoridade é muito rock n´roll, na onda garageira, apesar de haver alguns temas na área da "balada alternativo-explicativa." Em termos de qualidade de som, é inegável que as mãozinhas de Rui Veloso (co-produtor do cd) e do guru Luis Jardim (responsável pela Produção) se fazem notar. No que se refere às letras, como os próprios assumem (consolidando a sua vertente boysbandesca), são eminentemente melodramáticas, estando os temas da deserção amorosa, do sentimento de abandono e do arrependimento presentes em 99% das canções - embora de formas muito, mas muuuuuuuuito diferentes do normal.
Vejamos o caso de "Zão", uma das canções mais dançáveis, numa onda twist (mas alegwe!!!), do álbum "Um tanto ou quanto atarantado". Este tema é um hino à necessidade de entusiasmo constante na vida, corporizada na figura de Zão (diminutivo de quê?!...) como é visível na repetição constante de "Quero ter-te...Zão!"
Vejamos o caso de "Nome da Canção", que é basicamente o quê?... A receita, explicitamente cantada, para fabricar uma canção romântica como deve ser.
Vejamos ainda "Bifas de Albufeira", uma quase-canção-de-marinheiros, uma ode um tanto ou quanto explícita demais, aos atributos "carnungueiros" das turistas inglesas que enxameiam o Algarve.
Vejamos e ouçamos. Todo o álbum. Sempre ouvi dizer que azeitonas fazem mal à boca, mas estes são é bons para o ouvido. E o único efeito secundário é a boa-disposição.
Convém é ter o neurónio da irreverência em velocidade máxima.

Thursday, May 04, 2006

 

ÉS DOS DUROS OU ÉS EASY-ON?

Porque o rocker é uma espécie em vias de "disfunção", resolvi promover aqui uma espécie de "toque rockal", para examinar as preferências e a dureza do roqueiro que há dentro de cada um de voz (salvo seja!). E se as palavras anteriores denotaram qualquer sentido homossexual, foi por pura coincidência...

Vão a http://www.blogthings.com/whatkindofrockerareyouquiz/ e...Rock on! ("Liguem a pedra!", em Português)


Para quem queira saber ("Who cares???), aqui está o resultado do meu teste.

You Are a Freedom Rocker!
You're stuck in the 70s - for better or worse.Crazy hair, pot soaked clothes, and tons of groupies.Your kind showed the world how to rock.Is that freedom rock?... Well turn it up man!
(em Português: "Tu és um roqueiro do melhor que há. Nasceste nos anos 70 mas não estás nada velho - tens um cabelo que é um mimo, roupas do melhor e és muito popular - as miúdas curtem-te à brava. Ensina ao resto da malta como é divertir-se. Isso é rock afrodisíaco?...Então "amanda-o" para cima, mén!")
Ok, pronto, a tradução não é "exactamente" isto...
ok, ok, não será "muito parecido" com isto...
É... "ligeiramente semelhante" a isto?...
Pronto. É totalmente diferente. Mas é mais colorida, digam lá que não?...

Friday, April 28, 2006

 


Ainda os Dungos...

Para quem não conhece o trabalho de originais destes meninos, aqui ficam umas letras, com o seu quê de picante, arraçadas de românticas (e vestidas com um sonoro muito pujante, já agora) para vos aguçar o apetite...

MENTIRAS DESCARADAS
e outras geniais declarações de amor
(Tiago Reis)

Eu não posso perder o meu sentido de humor
Não tenho mesmo nada para dar, e além do mais
Nunca entendi
o terrível conceito do compromisso
Pela ousadia pago qualquer preço, e errei
Ao pensar que poderia alguma vez mudar

Eu não posso perder o meu sentido de humor
Não tenho mais nada pra dar, além destas
Irresistíveis mentiras descaradas
e outras geniais declarações de amor

E nunca se viu tanta imaginação descontrolada
Há quem diga que não serve para nada, mas
Quando à minha volta tudo se vai desmoronar

Só resta o meu fundamental sentido de humor
Nada se pode comparar, além destas
Irresistíveis mentiras descaradas
e outras geniais declarações de amor

E há quem diga que não servem para nada
Para esses aqui vai todo o seu valor

FANTASIA HORMONAL IMATURA
(Tiago Reis)

Nada mais importa senão
realizar este desejo tão
urgente de miúdo que não
cresceu e ainda me ria
se finalmente conseguisse

Mas algo sempre me acontece
no momento crucial e tudo
mais uma vez se desvanece
Acordei antes do final
isto só a mim

Acho que hoje é só mais um dia
Em que mo e vou deixar levar
Por uma fantasia
hormonal imatura
Quem diria? Quem diria!

A logo contigo
o meu trauma romântico
mais antigo
Quem diria? Quem diria!

Thursday, April 27, 2006

 

Os DungoSauros Rex
São a mais energética e perfeccionista banda de covers que alguma vez ouvi. Os "manos" Dungo, uma espécie de 4 energias que se agregam sob o nome de Jim Dungo, um bocadinho na onda "Captain Planet", essa mítica figura dos desenhos animados que resultava da junção dos elementos água, fogo, terra, vento. E nesta banda, também é mais ou menos assim.
O fogo é sem dúvida o João Dungo, um frontman humorista e com uma capacidade histriónica imbatível: é vê-lo a saltar, a mostrar a barriguinha, a despir a camisola, a apertar a genitália, fazer coreografias na onda kamasutresca... enfim, um verdadeiro homem de palco.
O vento será o Bruno Dungo, um homem cuja energia, além de abanar pratos e timbalões, ajuda a espalhar ainda mais o fogo que já anda à solta no palco: primeiro estranha-se a maneira de o homem tocar bateria, porque toca praticamente de pé e com as peças todas numa montagem muito própria (isto, além de ser canhoto, o que também ajuda a isso); depois tem breaks que só ele deve saber como se fazem; e ainda tem tempo para ajudar nas vozes.
Depois temos os elementos mais soft, que proporcionam o equilíbrio global. A terra será o Tiago Dungo, guitarrista virtuoso, essencial à banda, mas que prima pela qualidade do que toca e não tanto pela exibição para o público.
E no baixo, a água, na figura do Pedro Dungo, mestre da chamada limpidez pujante, já que o feeling que imprime ao seu som...demais!
Pois juntamos tudo isto e temos uma explosão musical sem precedentes cá no burgo. Porque não é só pular e gritar e distorcer; são precisas muitas horas a tocar juntos, para se chegar a este patamar. E eles para mim, já estão nessa categoria: dinossauros. Não no sentido de "velhos e ultrapassados", mas no sentido de "banda de referência" - e no que toca a prestações ao vivo, não há outro termo comparável no universo das bandas de covers que conheço. E aí é que reside a diferença: porque eles podiam limitar-se a desempenhar o papel de "tocadores de música" e receber o seu dinheirinho, pois que estão "apenas"a tocar temas de outros. Mas não o fazem. Eles pões um tal coração em cada actuação, que mais parece que as canções saíram todas da sua cabecinha. E depois há outra coisa: tocam música mainstream, mas também tocam funk, hiphop, até dance music! Baralham e voltam a dar e tudo com uma qualidade impressionante. Já os vi tocar Red Hot (Give It Away)com a letra do "Chiclete"(dos Táxi); já os vi tocarem um medley de Michael Jackson com efeitos sonoros onstage, coreografia moonwalking e tudo; já os vi a cantar o "Creep" (Radiohead) em versão portuguesa...Têm uma criatividade a toda a prova. E não nos cansam. Porque cada actuação é única. E têm uma quantidade de músicas no repertório que nos espanta tentar perceber como encaixam aquilo tudo. Deve ser a chamada química.
E isso também resultou no fantástico cd de originais que gravaram, já em 2004 - "ALmoçamos à Meia-Noite?" - ao qual não foi dada a devida cobertura mediática e o qual, também fruto de algumas limitações de aquisição por parte das grandes superfícies, não vendeu mais do que a tiragem inicial, 1500 exemplares. Nos temas deles como nas covers que tocam ao vivo, muita originalidade, muita garra na sonoridade algo inovadora, assim como no vozeirão do João, secundado em alguns temas pela belíssima Lúcia Moniz. Este disco teve a produção executiva do impagável Manuela Moura dos Santos (o "mauzão" dos "Ídolos"), que é também o seu manager, tendo ainda colaborações dos seus amigos Rui Veloso e Manuel Paulo. Tinha, portanto, à partida, condições para se tornar um sucesso nacional.
Mas enfim, estamos em Portugal, e os rapazinhos não conseguiram alcançar o estrelato merecido, mesmo depois de um período algo confuso, em que actuaram como banda-suporte de Jorge Palma, tentando, quiçá, lograr uma promoção maior dos seus temas. O pior foi o público...Sim, porque já estava habituado a vê-los tocar as covers há tantos anos que estranhou! Vai daí, voltaram à fórmula original e aí andam eles, pelos bares deste país (pena que seja basicamente no Centro-Sul), a trazer alegria às noites, que estão cada vez menos criativas e electrónicas.
Salvé, DungoSauros Rex!

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